terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O nó e o nós




Hoje é um desses dias que parecem comuns. E, quase sempre que parecem, são só dias comuns mesmo. O meu foi um pouco especial pra mim. Nada que vá mudar o rumo da humanidade. Mas, sério mesmo, esses não são os melhores dias das nossas vidas?

Eu ganhei um par de ingressos pra ir numa peça de teatro. Estava sem par, ainda assim eu fui. Chegando no lugar, meus olhos me pregam uma peça. É de um quebra-cabeças que fez meu coração esquentar. Naquele mesmo lugar, em uma circunstância muito diferente, eu dei o primeiro beijo em minha ex-namorada. Lerdo que sou, só percebi quando as luzes se apagaram, igual àquele dia, em que nossos lábios se morderam.

O peito então dá o seu nó, arrematando com uma laço, pra deixar os tons de cinza mais bonitos. E o laço, como que puxado por dedos milagrosos, se desfaz. Eu caio em mim. “O amor também se desfez”. Falo a frase em um sussurro, soltando o ar pesado. O casal do meu lado me olha discretamente, tentado adivinhar se eu seria só uma ameaça à sua noite bacaninha ou também à sua integridade física. Dou a eles meu sorriso tímido de desculpas.

Depois de sei lá quanto tempo em um processo que percorreu caminhos tortuosos, eu finalmente percebi. O amor se desfez. Tranqüilo. Calmo como sempre foi, foi embora. Deixou um bilhete. Um nó que lembra a saudade de outros tempos, as felicidades, as tristezas. Uma lente que não esconde nada da gente. Uma cortina se abrindo pra começar o espetáculo.

E, como há muito tempo não acontecia, a vida encheu cada pedaço do meu corpo.

É uma revanche gloriosa do final feliz que a gente sempre tenta acertar. É como uma música boba de filme de comédia romântica, que a gente sabe que é boba, e ainda assim é contaminado até ficar bobo também. Vou ser um bobo, com a suavidade que cruzou meus dias. O meu semblante vai se manter sereno.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Você não é esse cara




É engraçado como a mania de generalizar tomou conta da nação. Eu ouço todo santo dia as frases que dizem “homem é isso”, “mulher é aquilo”. Como se o gênero viesse com um pacote de características, uma bula além do conhecido “meninos têm pênis e meninas têm vagina”. Quando a gente sabe que nem isso é garantido hoje em dia, né? Basta contar os Ts do movimento LGBSTTTTTTTTT.

Deixando a balela de lado, acho o generalismo um saco. Pra começar, foi com os generalistas que o Brasil viveu a ditadura. Há, gostou do trocadilho? Tá, agora realmente deixando a balela de lado... O generalismo é um saco, concordemos.

Depois de uma entrevista com uma senhora não muito ortodoxa, recebo uma dessas propostas asquerosas do tipo “passa aqui depois, sozinho, pra gente tomar alguma coisa?”. Eu recuso com educação, mesmo com o incentivo de um membro da equipe. E quando ele pergunta “mas por que você não aceitou a patrocinadora?”, a resposta saiu fácil. Eu não sou esse cara.

O cobrador me passou o troco a mais, muito mais, o que poderia poupar a visita chata ao caixa-rápido do banco e ainda custear o lanche da tarde. Devolvi o dinheiro ao cidadão e ele comentou em voz baixa que “se fosse você, não falava nada”. Graças a Deus que não sou esse cara.

Um menino pediu informações com um papel na mão. Perdido como um jogo do Palmeiras com o Márcio Araújo de titular. O relógio me cutucava dizendo o quanto eu precisava correr pra não perder o ônibus, mas que diabo, ele era só um garoto. Só que a consciência é terrível com quem não consegue simplesmente ignorar um pedido de ajuda.

Eu não sou esse cara. Você também não. Não interessa que cara ou coroa imaginam, não somos. Um grande deslize dos surfistas da vida acharem que podem rotular todo mundo, que as pessoas se encaixam como peças de um quebra-cabeças. A previsibilidade das coisas só serve pra surpreender todo mundo, é ou não é?

Vou ser filósofo um dia, bro.


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Cachoeira de idéias

Isônia. Lexotan. Insônia.

Tião tinha doze metros de gravata metidas no gravatá, sabia já de cor. Como outros Titos, vivia sendo Vítor, um personagem sem nome dos Nestores que tanto faltam nesse país. Em qualquer um dos quatorze estados unidos que morou, sempre foi confusão. Acabou trocando a confusão (que, pelo amor de Deus, não é ninguém que eu conheço!) pela desorientação. Achou que se intitular desorientado soava melhor. Menos dramático. De tanto ser telefonista, acabou trocando o seu próprio nome por um gerúndio. Fernando. Nome próprio. Comprado a prestação.

Parece que tem qualquer coisa errada com minhas sinapses, não consigo organizar meu fluxo criativo. Vou mandar construir lá dentro um viaduto e tirar os semáforos. Não me sinto fazendo sentido. Talvez fosse melhor virar soldado e juntar o mundo, fundido os metais com maçarico. Daí ia poder entortar o sentido da música e me sentir "The Man Who Sold The World". Pior que trocadilho ruim, só o seu tio tosco que te chama de "campeão!" enquanto dá tapinhas na sua barriga.

É melhor um viaduto com ou sem tesourinha?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Eu não entendo.

Tem tanta coisa nesse mundo que eu não entendo. Eu tento, juro que às vezes até supero o Tesla no esforço de clarear certas coisas da vida. Mas uma boa parte está completamente fora do alcance da razão. Não só da minha, da humanidade.Um dia desses eu precisava desesperadamente de um relógio. O meu quebrou após uns bons seis anos de uso e eu tinha, literalmente, me perdido no tempo. Quebrou o dito e fui comprar outro. Nas lojas, cada, mas cada um dos vendedores fazia questão de me mostrar a profundidade a que o relógio resistia debaixo d’água. Chegou ao cúmulo de um me dizer assim:

-Olha esse modelo, que beleza. Ainda tem alarme subaquático!

Claro, perfeito. Agora eu não vou ter que me preocupar nem em estar atrasado e nem em dormir quando eu for fazer um mergulho a 200 metros.

Aquele uniforme ridículo do Flamengo, amarelo e azul? Me explica que porra é aquela!

A minha mãe tem uma gastrite nervosa terrível. Em uma crise, ela ficou com o estômago reclamando que nem deputado do PSOL. Me ofereci pra ir comprar algum remédio na farmácia que pudesse ajudá-la. E ela:

- Tá, mas só gasto até quarenta reais.

Liguei na farmácia e a atendente me disse que o remédio que resolveria o problema custava R$53,80. Foi taxativa, “nada feito”, entre gemidos de fazer chorar. Tive que ir até o banco e sacar pra pagar os R$13,80 restantes porque ela estava irredutível, ia ficar agonizando e com dinheiro na carteira. Não há pessoa no mundo que me faça entender isso.

A inexistência do verbo “meiar” no Aurelião. Como nunca ouviu? Meiar, ué! Você já usou diversas vezes, eu sei. O ato de meiar é conhecidíssimo do brasileiro e referência no resto do mundo. O gaúcho é acostumado a meiar o chimarrão numa roda, todo irmão mais velho meia roupas com o mais novo e nas repúblicas universitárias todo mundo meia o sofá da sala. A expressão é oriunda do josémayernismo, que por volta de 1918 (ali, quando Manoel Carlos nasceu) já começou a meiar as protagonistas de novela das oito.

Leia uma letra do Djavan e me diz que faz sentido, que eu quero ver.

Agora, e ex-namorada? Monalisa é só uma baranga mesmo, gente. A ex-namorada que é maior charada da história. Há quem diga que os gays só são chamados assim porque nunca vão ter ex-namoradas. Ela te quer, não te quer, vê e não enxerga. Ela sabe infernizar e também adoçar sua vida. Grandes homens da história foram derrotados pela ex-namorada, a economia balança quando há um crescimento no número de ex-namoradas, pelo menos duas pessoas morrem subitamente toda vez que uma ex-namorada te liga

E o motivo de tanto estrago?
Ah, cara, eu não entendo.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Três nomes




Meu telefone tocou, um número que não identifiquei piscando no cristal liquido, apesar de me parecer tão familiar quanto ver o Palmeiras perder. Atendi enquanto olhava pro céu bonito da manhã de domingo. Ouvi uma voz que fez meu coração falhar.

- Passarito? É o Deco.

O lance do "Passarito" é um apelido de criança, longa história que fica pra depois. O Deco também é da infância, um amigo que fiz quando tinha uns cinco anos e com quem compartilhei meu sangue e minha vida até os 17. André Alves Dutra. Não ouvia aquela voz insolente desde 2006, no dia terrível em que cada um seguiu seu caminho. Fiquei um segundo sem reação, um turbilhão invadindo minhas lembranças. Acho que minha alma balançou entre dois extremos, dor e alegria. A alegria venceu.

- Como é bom ouvir sua voz, meu velho - respondi.
Consegui sentir o sorriso dele do outro lado da linha.
- Estou em Brasília, pensei em ver se você ainda ta inteiro sem eu pra proteger seu esqueleto.
Como a vida é uma brincalhona. No momento em que ele me ligou, eu colocava meu relógio pra sair. Dois relógios, na verdade.
- Na hora certa.
- Como é? - perguntou, confuso.
- Me encontra no parquinho, você vai entender. E calça um tênis que a gente vai andar.

Não demorou muito pra alcançarmos os trilhos, a divisão dos nossos mundo antigos. Só voltei lá uma vez desde 2001, quando eu, Deco e Marci juramos que nunca mais cruzaríamos a fronteira que a linha férrea faz. Estávamos com 12 anos naquela época e era fácil sentir a infância se esvaindo de cada um. Querendo conservar todas as maravilhas que só olhos de criança registram, decidimos guardar na memória os lugares depois da linha. Um formol de lembranças, que o tempo despedaça um pouquinho a cada mês, a cada ano. Cecília clamou apenas uma exceção ao juramento:

- Só podemos voltar lá se for com nossos filhos.

Concordamos, Deco e eu, prontamente. Lembrando disso nessa nova caminhada, rimos como bobos. Nenhum ser vivo no mundo seria capaz de contrariar a Marci. Cego, surdo ou mudo que fosse, ela sempre teve o dom de persuadir todos. Após um gole longo na minha garrafa d'água, o Deco me olha com a expressão de quem já sabia a resposta do que ia me perguntar.

- E quando foi que você voltou aqui?
- Esse ano.
- Com quem?
- Com alguém que não quer mais ser meu alguém.
- Puta que la merda, cara. Essa é a frase mais "to na fossa" que já ouvi na vida.
- Hahaha, para de me encher. Ela vale a fossa. Isso já passa.

Ele me olhou de lado, tentando disfarçar. E depois de 21 anos de treino, ele ainda falha vergonhosamente nisso. Enquanto subia em um trilho e tenta caminhar se equilibrando, traz uma coisa gostosa.

- Lembra de como a Marci caminhava aqui?
- Claro. Ela conseguia andar todo o percurso se equilibrando no trilho, enquanto a gente mal passava de cinqüenta passos.
- Até hoje eu me pergunto como ela conseguia fazer isso. O caminho deve ter uns nove ou dez quilômetros.

Maria Cecília e suas façanhas. Deco e eu vimos aquela menina-mulher fazer coisas incríveis, nos guiar por lugares e situações magníficas. Eu nunca tinha parado pra perceber que ela também deixou um buraco na vida dele, que ele passou por tanto quanto eu passei. Foi então que el revelou um segredo que nunca foi secreto, apesar de todo o esforço.

- Eu era apaixonado pela Marci, Lucas.
- Eu sempre soube. Por isso eu quase hesitei quando descobri meu amor por ela.
- Ia ser a maior burrice da sua vida - retrucou, imediatamente. A Marci queria você. Quando vocês ficaram juntos, me libertaram.
- Isso... me deixa mais tranqüilo. Mas então não entendo o porquê de você ter ido embora.

Um ar cansado se apoderou do meu amigo. Ele se voltou pra mim, me olhando firme:

- Eu precisava fugir, cara. Depois que ela se foi, tudo isso era dor e lembrança.
- Você me deixou só.
- E você agüentou!
- Eu precisava de você, Deco.
- E eu precisava estar longe. Você não entende?

Acho que nunca me senti tão maduro quanto naquele momento.

- É claro que eu entendo. Você não deixou de ser meu amigo, nunca vai deixar.
Ele se surpreendeu, perdeu o equilíbrio e caiu do trilho, pisando na grama.
- Essa menina nova mudou mesmo você, hein?
- Ex-menina nova. Ela me ajudou muito, sim, mas eu fiz minhas próprias mudanças.
- Conversei com ela há um tempão atrás. Ela pareceu ser boa pessoa. Pensei que você jamais esqueceria a Marci.
- Você foi passar o Manual do Doca pra ela, que eu te conheço. Ela é mesmo uma boa pessoa. E eu nunca vou esquecer a Marci, nessa vida ou nas que vierem.

Ele riu o riso claro que sempre teve. Meu amigo estava de volta, depois de mais de três anos. Enquanto caminhávamos naqueles trilhos, memória foram revividas, canções foram cantadas, risos foram gargalhados e a amizade renascida.

Naquela hora de caminhada, eu quase pude sentir a Marci ali, passeado num domingo de sol com a gente. O cheiro do cabelo dela, os olhos verdes contra o sol. Meu coração ficou tão apertado que pude sentir o pulmão reclamando da falta de oxigenação.

Quando chegamos ao nosso ponto final, olhei os nomes gravados desde 1997, com uma tinta guache vermelha. Que ficou marrom depois de todo aquele tempo. Ali, deixei o meu relógio antigo. Uma promessa da qual quase me esqueci. A Marci tinha me dito uma vez que eu e aquele relógio éramos uma contradição
.
- Você nunca esteve preso ao seu tempo, Passarito.

Ela me fez prometer que eu deixaria aquele relógio no passado assim que pudesse. E assim foi feito.

Meu amigo voltou pra casa, depois de algum tempo em que continuamos conversando lá, sentados na estrada de ferro que foi o caminho dos nossos dias de ouro. Depois que ele partiu, fiquei mais um pouco, pensando. Tentando encaixar as peças do tempo, tentando entender melhor como a vida tinha me conduzido até aqui. E tudo o que consegui foi perceber que aqueles trilhos precisam muito de uma limpeza. Sai de lá com o sol se pondo. Junto com ele, minha infância também teve seu crepúsculo.



domingo, 16 de maio de 2010

Hoje, uma onda

Hoje uma onda forte me acertou. Isso acontece às vezes, não é mesmo? Um momento de inércia, em que a vida nos alcança, nos atinge em uma esquina e a gente fica como que não pode fazer nada. Estático, inerte. E sentindo aquela onda dominar nosso corpo, nossa alma.

Me anunciaram, quase como se eu pudesse me preparar para o baque. Bobagem, a onda não se pronuncia e não se define. Ela tem sua vontade, pois a onda é feita da própria vida que vivemos, das escolhas que fizemos, das marcas que deixamos.

Queria poder soltar, gritar, esbravejar contra o tudo. Queria ser o sopro do mundo, a verdade escondida, o último Power Ranger de pé pra lutar contra as forças do mal e sair com as glórias, mesmo que derrotado. Mas a derrota para a onda nunca é gloriosa. Porque lutar contra ela é não respeitar quem comanda a onda. E por mais que ela te afogue, você só pode abaixar a cabeça. Respeitar o que a onda traz. Tentar levar pra casa, além do sal que gruda na pele, algum aprendizado. Como um soldado Ryan pra chorar por seu capitão sacrificado. Como eu, um bobo tentando fazer as mazelas da vida parecerem engraçadas. Quando a onda acerta, só resta o riso fraco.

Ontem eu estava revendo um filme importante pra mim. "Mais estranho que a ficção", no original em inglês, "Stranger than fiction". É um filme que me diz muito, particularmente, mas é claro que pode ser um grande saco pra você. E é claro que se for um saco pra você, você se torna meu inimigo automaticamente. Dados os avisos, o filme é sobre um cara comum e o seu relógio, que passam a ter suas vidas contadas e controladas por uma escritora. Harold Crick e o Fistwatch.

Mentira. O filme é sobre como a gente muitas vezes é acertado pela onda. A onda que arrasa com a gente, que traz o amor, que leva o amor, que não te considera filho, que te ama como irmão, que é o Soldado Ryan, que é um bobo piadista, que te destrói os sonhos, que constrói um desejo, que te lava a alma, que te tira a alma com uma cartada, que te deixa um meio-sorriso, que te faz um novo homem, que deixa uma cicatriz que lembra a forma de uma foca, que abre um pacote dos correios, que te dá uma balinha de hotelã.
Que é um relógio marcando o seu tempo, o meu tempo. O tempo engatinhar, do jeito que eu sempre quis.

Eu não tenho mais relógio. Acho que é hora de ser como Harold Crick.
E quem puder, se alguém puder... segura minha mão?

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Vale-tudo

Acordou com o peito arfando, se é que chegou mesmo a dormir. Desde que Vítor deixara de lado o vício pelo picolé, sofria essas crises de abstinência noturnas, que o devoravam por dentro. Sentia falta de cada sensação daquela gelada gostosura.

A textura que flutuava em sua boca, o gelado que gruda nas bochechas, o gosto doce de qualquer coisa artificial. Mastigar o palitinho depois de terminar, huuummmm! O coitado estava num estado que não podia ver nem gelo que já suava. Tonteava quando ficava frio e se contorcia quando pegava a via que passa pela praia. Praia, como todo mundo sabe, é quase um safari de picolés. O elefante é o SemParar, evidente. Ouvi falar que os vendedores de picolé de praia começaram a revidar as estilingadas batendo com as máquinas de cartão de crédito nos caçadores.

Enfim, o Vítor. Chegou em um ponto tão crítico que não houve jeito, levaram ele pra se consultar num psicanalista. Não foi difícil, falaram pra ele que lá ele podia atacar um Frutilee sem remorso.
Dr. Genivá, que não era psicólogo de brincadeira, logo deitou Vítor em no divã. Com uma chave de braço, naturalmente. Psicanalista bom, hoje em dia, tem que saber lutar vale-tudo pra sobreviver no mercado, é essencial.

Vanja vai, vanja vem, o Dr Genivá foi descobrindo a origem do vício. Vítor tinha aprendido a gostar de picolé mesmo depois de namorar a Silvia. A sua antiga paixão era filha do consul Agilberto Trabuqueira, e era conhecida como a mulher mais fria do pedaço. Quebrava pescoço de galinha pra fazer canja e nem fechava o olho. Era de dar medo.

Silvinha adora picolé. E ela ajudou Vítor a comprar sua geladeira nova. Advinha qual era a marca da geladeira? É isso aí, Consul. Vítor via a geladeira, lembrava da ex, do picolé, e ficava doido. A sensação do picolé era a sensação de Silvia. A textura, o grude, o doce, a mordida.
Ele não tinha nenhum vício bacaninha. Tinha era uma puta dor-de-cotovelo mesmo.

Dr. Genivá deu-lhe uma banda e disse a Vítor para voltar na semana seguinte para tomar mais sopapo. Pra aliviar a dor-de-cotovelo, ele ia fazer doer em outro lugar até o coitado esquecer onde doía primeiro.

Eu não disse que o vale-tudo é essencial no ramo?

sábado, 27 de março de 2010

Shaolin




Agora há pouco me deram a notícia.

"Mataram o Shaolin", disseram. Depois de quase 21 anos em que o vejo andando pelas ruas da minha cidade, pelas pedras da minha rua, pelas ruas da minha rua, pela minha vida. Mataram o bêbado da minha cidade. Me mataram também.

Ele era um bêbado à moda antiga, sabe como é? Desses que vivem cantando alto na rua de madrugada, dá bom dia pra todo mundo... Que dizem falar coreano e que viajam de espaçonave toda primeira terça do mês. Brigava com os ônibus, brigava com os butequeiros, brigava com a alta do dólar. E uma dessas brigas o matou. Com mais de vinte facadas.

Perdi o meu bêbado amigo. A minha cidade perdeu um Shaolin, que com tantas histórias pelas ruas da minha vida, pela minhas ruas da vida, perde também um pedaço do meu passado que morava naquele homem.



sexta-feira, 26 de março de 2010

Selvas de pedra e corações roubados

Eis que Cassiana queria cruzar Brasília a pé. Dizendo Brasília quero dizer Plano Piloto, que, para todos os efeitos, é o que os brasilienses entendem por Brasília. Mas mesmo reduzindo arbitrariamente as proporções de Brasília para dentro das duas asas, a tarefa da Cassiana não é das mais leves. Essa menina, evidentemente uma representação feminina do jovem que vos escreve, já que me acho muito cabeludo ultimamente e acho que ser uma bela e graciosa moça deve ter lá suas vantagens. Exemplo: Carla Perez e o poder que a bunda tem. Bom, o assunto é constrangedor e vamos morrê-lo por aqui, certo? Ponto final.

Voltando a minha psique feminina, a Cassiana. Ela vai rodar, esse final é óbvio, e você sabe disso porque todo mundo sempre roda nas minhas estórias. Descarrego minha dor nos personagens, pronto e acabou. Vamos ao motivos do insucesso de minha protagonista:

1. Brasília é o barro: A capital federal na verdade foi toda feita de barro, o concreto do Niemeyer foi tacado por cima só pra dar uma guaribada e disfarçar a peraltice. Quem anda pelo Plano sabe muito bem disso, já que é impossível caminhar mais de 500 metros sem sujar, no mínimo, sua sandália havaiana genérica (sim, porque se você tem uma havaiana original, você não deveria estar a pé). Mas os pés são o de menos.
Calças e mais calças se perdem, meias vão direto para o lixo, camisetas brancas ficam manchadas e tome Omo Multi-ação para corrigir a traquinagem dos pioneiros. Eles são o orgulho do Núcleo Bandeirante, olha que beleza.

2. Brasília é o off-road dos pedestres: Ainda bem, porque Cassiana realmente queria caminhar nas matas do cerrado. Acontece que Brasília tem calçadas com a qualidade das ruas de Gaza. Isso quando tem calçada. E o mato ainda é dos mais chatos, parece feito de mãozinhas que agarram seu jeans com ferocidade de guerreiros pigmeus. Isso transformará a caminhada de Cassiana em uma grande e retumbante tortura, já que o esforço vai ser bem maior do que o que ela tinha calculado.

3. Brasília é plana o caralho!: É plana no asfalto, mas vá lá andar nas entre-quadras. Além das irregularidades naturais do terreno, tem até prédios que criaram seus próprios morrinhos para se instalarem acima dos meros mortais. Mas Cassiana não liga para essa tentativa ridícula de manter a privacidade dos moradores e anda a vontade por dentro dos blocos.
Pilotis foram feitos pra isso, e os moradores é que morram secos esperando que eu (perdão, ela) dê a volta para não invadir seus bem-valorizados pisos. Piso que funciona comigo é só o salarial, e isso porque eu não tenho escolha.

4. Brasília foi feita em U: “Leves curvaturas nas asas do Plano, formando linhas suaves e simples”. Não sei se foi exatamente isso que o maroto Niemeyer falou a respeito, mas tenho certeza que foi algo do gênero. O que ele queria dizer, realmente, é que “Fiz esta joça em U. Vão dar a volta, losers”. Isso significa que a coitada da Cassiana vai bater muito mais perna do que imagina. Isso porque ela vai ter a impressão de andar em linha reta, mas na verdade vai estar caminhando em um gigantesco U de mais de 12 quilômetros.
E se ela tentar ir em linha reta, coitada, vai enfrentar mais mãozinhas de pigmeus que qualquer explorador australiano já encontrou nos desertos.

5. Brasília, está mais do que óbvio, não foi feita para os pedestres.

E é aí que Cassiana, assim como eu ou qualquer um dos milhares de sem-carro que existem nessa cidade, toma conhecimento da horrível verdade. Que ou o capeta do Niemeyer simplesmente não pensou nos pedestres, ou Brasília não foi feita como deveria ter sido. Andar pelo Plano Piloto é lutar contra o bom-senso. Eu sei disso pelo mesmo método que a Cassiana vai usar: andando. Já cruzei o Plano de todas as maneiras que Descartes sonhou em seus Planos. Já fui da 311 Norte até o Núcleo Bandeirante, na maior prova de que o homem é feito de força de vontade e testosterona abundante. Já andei do CCBB até o Pátio Brasil algumas vezes e ir da UnB para a Rodoviária é banalidade pra mim. Eremita certificado, baby.
E espalho isso por todos os cantos, pois é motivo de muito orgulho, sim senhor. Não tenho nem patinete, my brother, e ainda assim sobrevivo na falta de esquinas dessa cidade. Nem sempre, mas às vezes andando, já que os ônibus daqui também são motivo para criar uma guerrilha urbana. Selvas de pedra e corações roubados, é uma realidade meio cruel, mas é a que temos. Sem tirar nem por. Um mar de fantasias sustentadas por vias largas e a impressão de que é tudo planejado, já que quem mora no Plano (quase) sempre tem carro.
Eu e a Cassiana só temos jogo de cintura.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Esboços sobre o amor e a linguagem 2

 

Um conhecido meu, Jaime e evidentemente fictício, tinha uma frase-sucesso para os momentos de descontração. “Se eu conheço o amor é porque conheci a bunda da minha mulher”, e o dito era seguido  por um coro de aprovação. Pasmem as pessoas honradas/dignas do século XX, mas sempre que Jaime falava isso em uma roda, o coro vinha. As feministas, quando escutavam, armavam suas unhas para a guerra. Citavam os sutiãs flambados, a luta das mulheres ao longo dos séculos para conseguirem direitos iguais aos dos homens e as novelas do Manoel Carlos que invariavelmente contam uma estória de amarguras e superações femininas.

Mas o Jaimão tem uma arma poderosíssima ao seu lado. O poder que a bunda tem. Você sabe e eu sei que onde existe bunda existe o joinha nacional. Qualquer setor de serviços populares, quando explora a bunda, enche a poupança. Com o perdão do trocadilho. Onde quer que exista uma vaga para mulheres, a bunda é ponto crucial na contratação:

- Essa moça aqui é um achado, fala três idiomas e tem duas graduações. E está começando, não vai nos exigir um grande pagamento.
- Mas o fundo de investimentos dela, como é?
- Fraco, não cobre nem a inflação.
- Ah nem, então dispensa. Funcionária mesmo era a Glorinha.
- Aaaah, a Glorinha.

E ficam pensando nas nádegas da antiga e laboriosa trabalhadora.

Jaime sabe muito bem dessa realidade tupiniquim e vai espalhando o amor que sente por sua bunda, digo, sua mulher, por onde passa, sem dó. Atirando a bunda para todo o lado, Jaime já estava quase no faroeste, mais perigos que Lee Van Cleef. Se a coisa apertava, ele sacava logo a bunda e lancetava seus adversários. Nada ficava no caminho da bunda. Ele chegou até mesmo a fazer um seguro escondido da retaguarda de sua amada. Sabe como é, se vem uma nova recessão e leva a bunda, como ele fica?

Ao chegar em casa um dia, Jaimão se deparou com uma cena estranha. Para ele, claro, porque nós já vimos esse conto milhares de vezes. Ruídos estranhos vindos do quarto, um par de sapatos de homem na entrada, o ar pesado da traição. Entre  furibundo e  medroso de ter perdido a bunda, Jaime correu para o quarto, não sem antes se armar com a primeira coisa que viu. Que, no caso, foi um guarda-chuva do Barney, propriedade de sua filha. Ao chegar na cama do casal, sua esposa se engalfinhava furiosamente com outro ser. Para sua surpresa, era uma mulher. Ou quase isso, não sei. Eu diria que gênero é algo muito flexível na atualidade e eu é que não vou me meter no assunto.

Ao ver aquilo, Jaime se desconcertou:

- Mas Glorinha, o que diabos é isso?
- Ahn, Jaime... Essa é a Edimar. Ahn...
- Depois desse tempo todo de casamento... e com uma mulher!
- Ora Jaime, você falava tanto de bunda que resolvi ver se gostava...
- Já sei, daí resolveu experimentar e eu dancei, certo?
- É, mas primeiro tentei com outros homens.
- Má quê???
- Cê não tem bunda, né Jaime?!
- Dancei.
- É, mas depois.
- Má quê???
- As bundas de homens são cabeludas, não me interessei. Resolvi tentar com mulheres.
- Aí eu dancei.
- Ainda não.
- Má quê???
- Você sempre soube que gostei de você porque é liso. Não financeiramente, claro.
- Má q...
- Pára com isso! Que saco.
- Desculpa, prossiga.
- Não fui de bunda.
- Como assim?
- Achei sem graça, sabe? Gostei mais dos peitos.
- E aí?
- Aí, você dançou.
- Má quê???


quarta-feira, 3 de março de 2010

Meu sonho foi diferente...




O meu sonho se passa alguns anos antes do seu.

Nele, eu estou sobrevoando a nossa cidade à noite, bem tarde da noite. O avião desliza, fasten seat belts aceso, e logo pousa. Eu estava viajando há um tempo, seguindo de matéria em matéria, e o meu rosto registra o cansaço.

O meu terno está amarrotado, a gravata frouxa no pescoço, e fico ainda mais amassado quando desembarco. Porque você está lá, linda, e me recebe com um abraço delicioso. Dirige até o nosso apartamento enquanto conversamos sobre coisas menores, as pequenas saudades.

Chegando lá no alto, abro a porta do apartamento e vejo um sofá fofo com um menino mais fofo ainda que me espera, morrendo de sono e vendo desenho.

Sentamos os três, e, abraçados no sofá, conversamos e rimos, enquanto a cidade brilha silenciosa lá fora.



segunda-feira, 1 de março de 2010

Conselho




Ela girou os calcanhares, num bailado leve, e em menos de um segundo estava de frente pra mim.
Com uma segurança inabalável me disse:
- Sua vida é muito disso tudo porque você não sabe andar na maré.

Eu, surpreso como um petista, perguntei a pergunta mais sem propósito possível.
- Hein?

Ela, que estava firme, conseguiu ser mais.

- Você sabe, eu sei. Não preciso de mais do que esse tempo contigo pra saber que tem alguma coisa, qualquer coisa em você que está fora do lugar. Eu só não consegui deixar de te dizer.
- Bom, obrigado, eu acho - respondi, desconfiado.
- Quer um conselho?
- Manda bala.

Com o brilho de uma nova Vishnu nascendo, ela disparou:
- Para de jogar "Cara ou Coroa" com a sua vida.

E foi-se embora quando o elevador parou no térreo.
Até hoje eu me pergunto o que diabos essa desconhecida quis me dizer.

(05/10/2014) 
Hoje eu sei.



domingo, 21 de fevereiro de 2010

Esboços sobre o amor e a linguagem 1

Um dia eu ouvi em algum lugar que escrever com amor é amar de um jeito estranho. Não entendi bem naquela época. Agora acho que não entendo mesmo é de jeito nenhum. Tentar falar de amor com letras impressas parecia uma incongruência para mim, isso é fato. Ou era fato. Malditos tempos verbais. Sempre achei que o amor devia ser sentido em todas as dimensões, em todos os toques e cheiros e gostos e sussurros que são possíveis provar. E a escrita é fria, eu acho.

Quando comentei sobre isso com um grande amigo, que pode ser ou não fictício, ele disse suavemente “mas que merda é essa que você está falando?”. Segue o que o camarada me explicou, da melhor maneira que minha memória consegue resgatar:

- Às vezes você fala umas coisas que me deixam triste, Doca Nii-san.

- Ué, o que tem de mais? Acho que o amor não se diz escrevendo, só isso.

- E é aí que você manda mal. Você pensou na sua forma de dizer e não na forma com que os outros entendem.

- Desenvolva, velho chato.

- Se você diz, a pessoa é obrigada a apenas escutar. Pode retrucar, mas aí já vai para o diálogo, que não é do que estamos falando aqui. Agora, se você escreve, a pessoa lê e interpreta. Ela adapta a sua visão à visão que ela tem. É obrigada a preencher as lacunas com suas próprias experiências.

- Então você quer me convencer que escrever o amor é o certo, e não falar?

- Não, Doca anta Nii-san. Estou dizendo que não existe certo ou errado. O que existem são as linguagens. Você as usa de acordo com o que quer dizer e com o que espera do seu interlocutor.

- Aaaihn. Make sense.

- Agora leve esta voad com você para casa.

- Voad?

- Voadora Dragão. Toma!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Flerte




Há umas semanas atrás abriguei o Formiga lá em casa. Não, não precisa se esforçar. Esse não é o Formiga que você conhece. Esse Formiga eu acabei de inventar.

O Formiga me contou uma coisa interessante que aconteceu com ele. Diz o Formiga que estava mal com a Claudinha, sua paixão. Formiga é metido com jogo do bicho (trocadilho, eu sei e eu gosto) e a Claudinha ficou furibunda quando ele gastou o salário na Mula. Deu zebra. Claudinha botou o apostador pra dormir no sofá e não quis saber de conversa.
Então vinha voltando o Formiga do trabalho, cansado e já prevendo chuva de prego novamente quando chegasse em casa. E deu-se que, ao entrar no coletivo, Formiga viu uma mocinha bonita, que lhe chamou a atenção.

Maroto que é, ele se aproximou um pouco e ficou perto da menina, em pé ao lado do banco dela, a observá-la com cuidado. Sentado junto a mocinha, um enorme ser bombado conversava, demonstrando interesse principalmente pelo decote da dita. Típico do ambiente de transporte de massa.
A moça tinha qualquer coisa da Claudinha, mas Formiga não sabia dizer o que. Ficou a observar a menina pelo reflexo da janela, para não dar bandeira. A cada palavra que ela trocava com o bombado, Formiga ficava mais intrigado.

Como o Formiga é dos meus (feio, pobre e mora longe), a viagem foi longa. A mocinha, em determinado momento, olhou pela janela e viu o olhar doce de Formiga sobre ela. Sorriu, de coração aberto, pela estratégia do rapaz, de olho do reflexo. Formiga sorriu de volta. Se olharam frente a frente, ambos ignorando perigosamente o bombado entre eles. Formiga percebeu que estava no seu ponto e seguiu para saltar do ônibus, ainda sorrindo, e sorrindo foi até entrar em casa.

Dias depois do episódio, o meu amigo veio de malas prontas se hospedar na minha residência. Disse que tinha largado a Claudinha, que precisava de uma semana de refpugio. Eu dei só por ele ser imaginário. Quando perguntei o que houve, ele primeiro não soube responder e depois se explicou.

- Percebi que a Claudinha não é minha paixão, Lucas.
- Mas como isso agora, Formiga?! Você é doido pela Claudinha, até tatuou o nome dela no peito, com o "nha" contornando o mamilo.
- Pois é, mas encontrei a verdade.
- Que papo de crente é esse?
- Flertei com uma menina no busão, meu amigo. Por dois segundos, vi o que me deixava doido pela Claudinha. Quem ela já foi. O passado me encantou pela Claudinha. O presente me deixa na mão.

Achei graça e a história muito estranha (Formiga nunca foi filósofo), logo o malandro não me enganou muito tempo. Passou a recusar caronas todos os dias e comprar vale-transporte aos quilos.

Hoje em dia a turma toda sabe que ele anda de ônibus a torto e a direito pra usar a cantada do reflexo.



domingo, 10 de janeiro de 2010

De futebol e mulheres




Futebol é terapia. É ou não é? Muitas mulheres não entendem que, para o homem, jogar futebol é tão terapêutico quanto ir à manicure ou conversar com a melhor amiga.
Comigo não é diferente, o futebol é a minha maior terapia. Futsal, principalmente.
Quando entro em quadra, o resto do mundo some. Só existe a bola, o gol, o meu time e o adversário. Tudo o mais é uma grande segunda-feira.

***

Sessão nº 439 de terapia: Lucas Doca tentando entender as mulheres e achar o seu chute de esquerda perdido
Horário: 23h49

Alonga, solta a bola na quadra.
-> Não acredito que fiquei três horas discutindo por sms.
Controle de bola, algumas embaixadinhas.
-> Não acredito que eu tô procurando as desculpas dela mais uma vez!
Chute longo, cruzado. Longe do gol.
-> De onde diabos ela tirou essa história? Não tava dando em cima da outra, de ninguém, que saco!
Corre pra bola, carretel... fail. Melhor começar pelos chutes mesmo.
-> Queria que ela tivesse falado comigo, pelo menos. Me ignorar, depois de tudo, é ultrajante.
Chute rasteiro no canto, perfeito.
-> E a outra? É só uma amiga, ué! Eu gosto dela.
Bola aérea, de primeira ou deixo quicar? Demorei demais, melhor sempre dominar e chutar.
-> A outra é a favor da diadura, pelamor de Jeová? Como pode alguém tão doce ser a favor disso?
Drible rápido pela esquerda e chute. Quase joga a bola na rua.
-> Será que com o tempo a outra não muda isso? É fato que democracia é o caminho correto!
Chute do meio da quadra, bola parada. Boa! Tô pegando o jeito.
-> Mas que merda! De tanto ela falar, agora a outra não sai da minha cabeça.
Primeira tentativa de canhota... horrível. De novo.
-> Gosto demais dela, não existe outra. Não ainda. Não aguento mais brigar.
De novo a esquerda... tenebroso. Será que eu consigo?
-> Odeio me sentir assim, não fiz nada de errado, que diabos!
De novo a esquerda... talvez se eu tentar de trivela.
-> As duas são lindas, ela e a outra. Que eu faço?!
Trivela de esquerda... TÁ LÁÁÁÁÁÁÁÁÁ! É ISSO! RECUPEREI MEU CHUTE!!!

Chego em casa, após a terapia, às 24h30. Corpo acabado, tomo um banho e vou ler um pouco antes de dormir. Dan Brown, só pra pegar no sono mesmo.
Mas mesmo depois de tudo isso, da sessão de terapia, do cansaço, de Dan Brown, do meu chute perfeito, só consigo pensar uma coisa antes de dormir.

"Porra, mulher é uma merda!"


Quem sou eu

Minha foto
"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto