Hoje é um desses dias que parecem comuns. E, quase sempre que parecem, são só dias comuns mesmo. O meu foi um pouco especial pra mim. Nada que vá mudar o rumo da humanidade. Mas, sério mesmo, esses não são os melhores dias das nossas vidas?
Eu ganhei um par de ingressos pra ir numa peça de teatro. Estava sem par, ainda assim eu fui. Chegando no lugar, meus olhos me pregam uma peça. É de um quebra-cabeças que fez meu coração esquentar. Naquele mesmo lugar, em uma circunstância muito diferente, eu dei o primeiro beijo em minha ex-namorada. Lerdo que sou, só percebi quando as luzes se apagaram, igual àquele dia, em que nossos lábios se morderam.
O peito então dá o seu nó, arrematando com uma laço, pra deixar os tons de cinza mais bonitos. E o laço, como que puxado por dedos milagrosos, se desfaz. Eu caio em mim. “O amor também se desfez”. Falo a frase em um sussurro, soltando o ar pesado. O casal do meu lado me olha discretamente, tentado adivinhar se eu seria só uma ameaça à sua noite bacaninha ou também à sua integridade física. Dou a eles meu sorriso tímido de desculpas.
Depois de sei lá quanto tempo em um processo que percorreu caminhos tortuosos, eu finalmente percebi. O amor se desfez. Tranqüilo. Calmo como sempre foi, foi embora. Deixou um bilhete. Um nó que lembra a saudade de outros tempos, as felicidades, as tristezas. Uma lente que não esconde nada da gente. Uma cortina se abrindo pra começar o espetáculo.
E, como há muito tempo não acontecia, a vida encheu cada pedaço do meu corpo.
É uma revanche gloriosa do final feliz que a gente sempre tenta acertar. É como uma música boba de filme de comédia romântica, que a gente sabe que é boba, e ainda assim é contaminado até ficar bobo também. Vou ser um bobo, com a suavidade que cruzou meus dias. O meu semblante vai se manter sereno.