sábado, 27 de março de 2010

Shaolin




Agora há pouco me deram a notícia.

"Mataram o Shaolin", disseram. Depois de quase 21 anos em que o vejo andando pelas ruas da minha cidade, pelas pedras da minha rua, pelas ruas da minha rua, pela minha vida. Mataram o bêbado da minha cidade. Me mataram também.

Ele era um bêbado à moda antiga, sabe como é? Desses que vivem cantando alto na rua de madrugada, dá bom dia pra todo mundo... Que dizem falar coreano e que viajam de espaçonave toda primeira terça do mês. Brigava com os ônibus, brigava com os butequeiros, brigava com a alta do dólar. E uma dessas brigas o matou. Com mais de vinte facadas.

Perdi o meu bêbado amigo. A minha cidade perdeu um Shaolin, que com tantas histórias pelas ruas da minha vida, pela minhas ruas da vida, perde também um pedaço do meu passado que morava naquele homem.



Um comentário:

Daniela de Carvalho Duarte disse...
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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto