quarta-feira, 17 de junho de 2015

Microconto do marshmallow




Fazia tempo que não via estrelas, apesar de não ter tanto tempo assim que olhou pro céu de noite. Nas saias do povo que ia a e vinha pela cozinha, dava pra ver como era agitado o negócio de festa da roça. Pamonha brava, chinela furiosa, planc e tundam de travessa batendo na mesa. Chiados de pão de queijo na forma, moleques com seus pés lambrecados, o uso constante da palavra "lambrecado".

Em sua afronta, não ligou. No seu espeto, acima da fogueira, tava o mais americanizado e artificial marshmallow de toda a região.



Quem sou eu

Minha foto
"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto