A linha em movimento. Pelas costas nuas, corriam minhas mãos e minhas tintas. Tentei copiar uma obra de arte em sua pele, fiquei no meio do caminho. Como querer ser Degas? A minha bailarina sente cócegas quando a caneta escorrega pela costela. Treme o traço. Dançou com os olhos. Dançou sem perceber o que o corpo fazia, cantou sem compreender o que a letra dizia. A tinta sobre a pele dura pouco, o significado daquele momento é um pra sempre entre nós.
O pra sempre mora onde passa rápido, também é movimento. Nossas telas estão na sua casa. Meu rosto, o dela. Minha alma, a dela. Sua história, a minha estória. Tintas de todas as cores, cores que não sei o nome. Ainda não inventaram a tela que queremos, nem por isso faltam desenhos. Ponto a ponto, pixel a pixel. Somos anônimos que se sentem reconhecidos, temos nossos nomes por todos os lados. Lembram da gente na rua, nunca sabem de onde. A importância de poder entrar onde quiser sem precisar de convite. Somos o Impressionismo sem precisar de pós. Nada de violência, ela já passou. As orelhas ficam no lugar.
Termino o desenho da nossa brincadeira depois de algumas horas de trabalho. Ela se maravilha, mas sei que podia ser muito melhor. Como as minhas estórias. De lei, sou repreendido. Tenho que escrever mais pra ser mais lido, sentencia. Sorrio, a bailarina dança sobre mim. Fecha os olhos e se apaga no sono. Antes de acompanhá-la, as palavras rolam sobre a tinta.
- Minhas estórias não estão esperando serem lidas, eu acho. Estão esperando serem lindas. Eu acho.