sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Inclusive...




Eu tô olhando pra você.

Mas é só uma foto, então não sei se vale.
Mas não é exatamente uma foto, é apenas uma imagem no computador.
Mas não tenho computador aqui, tudo isso está na minha memória.
Acho que eu tenho uma memória intensa.

Inclusive pro que não se olha. Lembro do gosto do seu perfume, da textura da sua voz.

É engraçado como a gente ama parecido e diferente ao mesmo tempo, né? O sentimento é tão familiar e sempre tão novo, tão único. Amei mulheres, lugares, momentos. Amei tempos, homens, pequenos objetos. Palavras.

Fui sutilmente perdoado esses dias. De erros profundos daqueles dias turbulentos, consegui pedir desculpas. Não por mim, mas pelo respeito que devo a quem se feriu pelas minhas facas. Parece que o perdão veio de volta, pela corda bamba, a seu próprio jeito e forma. Existe amor nisso também.

A sua gratidão me semeou por inteiro. Lembro do bom antes de tudo, quase sempre. De quem eu deixei ficar e de quem eu tirei, inclusive. Tô longe, em uma aventura na cidade cinza. Que a gente odiava, lembra? Agora outros amores me ensinam a gostar cada vez mais daqui.

E o amor, nessa rosa de cores em profusão, parece ser cada vez mais o branco de Oxalá dessa sexta-feira.



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

100oooooooor




- Tem maca? Só vou se tiver maca.
- Que isso, cara! É uma baladinha.
- Você não tá entendendo, quero sair de lá inconsciente. Mas gosto de ser carregado com conforto.
- Um brinde a isso!
- Mazel tov!

As cores vem e vão pela noite sob aquela tenda de batidas agudas, alternadas. Tinha o cidadão cantando a plenos pulmões, arrancando da garganta toda poeira de semans de ar-condicionado no serviço. Como é minimalista, o mundo da curtição noturna... tantas luzes disfarçando laços sendo construídos e desfeitos, Observar é como pegar a pipoca e ir passear no Zoológico: não dá pra ter certeza se é bom, mas é certamente interessante.

E selvagem.
É cada beijo.
Olha que frenético.
Será que eu danço divertido assim?
Se der mole, vou mandar uma coisa bem jovem pelo Whatsapp.

- Sabe o que eu não entendo dessas escritas de Whatsapp?
- Não, o que?
- O "socórrrr". É meio chatão, parece que tão chamando minha tia Socorro.
- Você tem uma tia Socorro?
- Não, mas poderia ter.
- Eu nunca vou entender o "100ooooor!". É bom, mas muito vanguardista..
- Como é isso?
- Tem esse post. É de um moleque do meu Muay Thai. No Facebook ele atende como Markinhos Malkriado. Sim, dois "k"s seguidos. Aí ele posta foto com pacotes de dinheiro. Tal qual apreensão da Polícia Federal, sabe? E o primeiro comentário era "100ooooor!".
- Realmente. Vanguardista.

Acaba o batidão, entra um DJ de bigode. Bom sinal. Se tem bigode, sabe o que tá fazendo. Nem que seja cagada, será uma consciente.

- E a Marina?
- Não vai andar. Não tô na dela.
- Nem pra dar uma chance?
- Cara, ela veio pra mim ontem, disse "quero te ver!". Eu achei que fosse o trecho de alguma música do Kid Abelha.
- 100oooooooooor!
- É. e bota um socórrrr nisso aí.

Distribuíram serpentinas; Começou a tocar Los Hermanos das antigas. Largamos as bebidas e fomos dançar. E assim como começou, sem nexo e colorida, a noite continuou pra nós.


domingo, 1 de novembro de 2015

Saudade Bruta




Sentado aqui na minha janela, em reflexões movidas a chocolate quente, percebo.

O jogo não acaba. "Que que ela pensaria?", "O que ela ia dizer?", "Quem ela seria?". Da ausência só vive saudade bruta. Advinhar a pessoa impossível. O tempo te mudou em todos os beijos que não te dei. E sinto falta de quem você poderia ter sido.

Sem me dar conta, uma vez te decifrei e te expliquei da melhor forma imaginável.

- Me fala um pouco sobre ela... Como ela era?
- Ela... Ela era uma força da Natureza.

Em cada ponto cardeal, Gaia, visceral e selvagem, te venero.

Novembro. O primeiro dia foi de chuva, e acho que foi bom, um dia bom. Você teria gostado. Você sempre gostou. Você está gostando, só pode. Afinal, eu vejo seu sorriso, reconfortante e precioso, por todos os lados.



Quem sou eu

Minha foto
"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto