Teve um tempo, há muito tempo, em que eu comemorava o Natal e era feliz. Quando criança me juntava a outras crianças da família, muitas delas celebrando o Natal como cristãos, e por proximidade eu fazia parte da carinhosa festa em outros lares. Mas a infância passa tão rápido, não é? Cresci sem me ligar a fé ensinada em casa ou na escola. Achei um caminho pessoal pra ver Deus e todas as coisas e fiquei em paz com isso. Mas a gente sabe, o Natal não perdoa ninguém. O Natal estava em filmes que "Esqueceram de Mim", eram um bando de "Anjos de Vidro", se "Um Papai Noel Muito Louco" me assombrava, vinham com ele "Os Fantasmas de Scrooge" e tudo o que eu queria era pegar o "Expresso Polar" pra fugir de tanto caminhão da Coca-cola tocando músicas fofas na minha porta.
Mentira. Nunca quis estar fora do Natal, mas nunca fiz parte dele. Era o namorado que ia pra festa família. O amigo que veio dar uma passada. Recebia "Feliz Natal" e acaba respondendo "obrigado", na falta do que dizer.
Esse ano eu desejei "Feliz Natal" de volta. E não me senti errado. Ajudei a dar uma festa de Natal, convidei amigos, assei um peru, comi pavê e ignorei completamente a mesa de frutas como qualquer bom cristão. Cantei "Feliz Navidad" com Michael Bublé e a Thalia. Fiz piadas sobre Jesus como se eu e ele fossemos velhos conhecidos. Propus jogos natalinos como o "Manja a manjedoura?", em que você devia fazer um troço de palha para que um bebê ficasse confortável por cima. Não foi pra frente, mas vocês entenderam. Eu abracei o espírito natalino. E foi bom porque ele me abraçou de volta, com amigos tão bons e coisas pequenas e gostosas como um sorriso largo que brota sem motivo.
Ano que vem pinto a barba de branco e assusto crianças. E quando eu tiver filhos vou reuní-los nesse dia. Vou contar histórias e estórias, cozinhar e comer, compartilhar presentes e dizer que Moisés é tão divertido quanto Papai Noel. Um dia pra celebrar a família como o Hanuka, como qualquer outro shabbat, como qualquer outro dia. O Natal entrou na minha vida de um jeito tranquilo, quando eu decidi entrar no Natal também. E é como beijar aquela garota que você sempre amou, mas achou que nunca seria sua.