Um dia eu ouvi em algum lugar que escrever com amor é amar de um jeito estranho. Não entendi bem naquela época. Agora acho que não entendo mesmo é de jeito nenhum. Tentar falar de amor com letras impressas parecia uma incongruência para mim, isso é fato. Ou era fato. Malditos tempos verbais. Sempre achei que o amor devia ser sentido em todas as dimensões, em todos os toques e cheiros e gostos e sussurros que são possíveis provar. E a escrita é fria, eu acho.
Quando comentei sobre isso com um grande amigo, que pode ser ou não fictício, ele disse suavemente “mas que merda é essa que você está falando?”. Segue o que o camarada me explicou, da melhor maneira que minha memória consegue resgatar:
- Às vezes você fala umas coisas que me deixam triste, Doca Nii-san.
- Ué, o que tem de mais? Acho que o amor não se diz escrevendo, só isso.
- E é aí que você manda mal. Você pensou na sua forma de dizer e não na forma com que os outros entendem.
- Desenvolva, velho chato.
- Se você diz, a pessoa é obrigada a apenas escutar. Pode retrucar, mas aí já vai para o diálogo, que não é do que estamos falando aqui. Agora, se você escreve, a pessoa lê e interpreta. Ela adapta a sua visão à visão que ela tem. É obrigada a preencher as lacunas com suas próprias experiências.
- Então você quer me convencer que escrever o amor é o certo, e não falar?
- Não, Doca anta Nii-san. Estou dizendo que não existe certo ou errado. O que existem são as linguagens. Você as usa de acordo com o que quer dizer e com o que espera do seu interlocutor.
- Aaaihn. Make sense.
- Agora leve esta voad com você para casa.
- Voad?
- Voadora Dragão. Toma!