A gente acorda um dia e se dá conta que aposentaram uma cor.
Sem FGTS, sem abono pela insalubridade. No meu tempo, o amarelo-queimado trabalhava duro. Era tudo o que o amarelo comum não podia ser. Sóbrio, sem essa pinta animada demais que o amarelo normalmente tem, sabe? É isso. Um amarelo mais tiozão do churrasco. O amarelo que não precisa de Red Bull.
Não sei se ele disfarça com outro nome. Tal qual o lilás, que atua sob pseudônimo de 'roxinho' hoje em dia. Li esses dias sobre um homem que usou um drone com barbante pra arrancar o dente da filha. Sim. Tem isso acontecendo. Até isso. Mas nada do amarelo-queimado.
O que será dos sobretons, eu não sei. O girassol não vai ter suas sombras, o sol também terá que se contentar com o laranja em seus raios. O ouro não parecerá real. É tudo menos sólido, menos vívido. Como se o mundo tivesse esquecido que um pouco menos de brilho às vezes nos dá perspectiva. Aqueles cantos que não eram maravilhosos precisam ser revelados, as falhas e hiatos, expostos. O amarelo-queimado é uma lupa. É a verdade que falta ser encarada. Tem dias em que eu me pintaria inteiro com ele.