domingo, 29 de maio de 2011

O primeiro




Tem um pedaço da vida do Juca que preciso dividir com vocês. É claro que o nome dele não é Juca. Seria idiota. É um pseudônimo. Aprendi essa palavra na 7ª série e sempre quis usá-la.

***

Ela deitou no ombro do Juca, as mãos se entrelaçando nas dele. Era uma coisa boa, tranquila. Caetano já tinha deixado de cantar, agora era a vez do Moska. Conversavam sobre tudo e nada. O pobre rapaz tentava mostrar um pedaço de sua vida através das histórias de infância, aquelas que sempre permeiam ficção e realidade. Ela entrava, uma passada cautelosa atrás da outra, dentro do mundo particular do Juca. Faca de dois gumes. Juca abria um pouco das cortinas do mundo dela também, um mundo sempre discreto. E adorava saber um pouco mais. Um encantamento de se sentir importante por alguém te contar algo importante de sua vida, sabe? As pequenas vitórias da confiança, da conquista.

Ele moveu o rosto quase sem pensar e pensando muito. Cada lado do cérebro em um estado de frequência. A boca procurou a dela, devagar, depois veio o ímpeto. Ele o segurou, com dificuldade. Têm uma coisa com beijos que o Juca ainda precisa aprender. Entender a força que pode correr da alma a eles. Ela sai fazendo festa, empolgada pelos lábios, sem se preocupar com uma possível torcicolo. Não sei com você, mas se eu não seguro, não sei onde vai parar. Mas não daquela vez. Não. Juca venceu o ímpeto. Tá, parcialmente. Ele me confessou que precisou de um Dorflex depois. C'est la vie.

Ela levantou o rosto, moveu o corpo pra mais perto do dele. Vagarosa, tímida, decidida. A tensão transpassava a pele como uma onda revoltada, ele conseguia sentir os músculos hesitarem. A ponta do nariz dela passeando pelo seu rosto. Uma provocação. Com um sorriso, ele a beijou, deixando a alma seguir seu caminho.

Daí você me pergunta "o que veio depois?". Ah, o depois é só o depois. Nem mais e nem menos, apesar da felicidade do Juca ser pálpavel. Outra parte da história que provalvemente não foi escrita ainda. Normalmente o primeiro não define rumos ou determina o depois. São amigos. Eles se cumprimentam com aperto de mão secreto, assistem futebol de domingo juntos e oferecem serviço de carreto na hora da mudança de casa.

E, pricipalmente, lembram um ao outro das datas de aniversário. Foi no dia 26 de maio, Juca. Sei que expus um pedaço da sua vida aqui, mas releve, vá! Este post vai salvar sua vida uma dia. Amém.



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Edital de Expectativas

Eu odeio as minhas expectativas. Com muita força. Sempre que elas brotam, começo a ficar nervoso e com medo. Aquele medo do "e se não der certo? vale chorar?" que nasce perto do umbigo da gente. Ou perto do meu, pelo menos. Minha ansiedade é toda feita de barriga. Acabei dando um jeito de vencê-la longo do tempo. A ansiedade, não a barriga. Foi um trabalho longo e cansativo, aos poucos o meu auto-controle acabou suprimindo esse pedaço da vida que eu, você e todo mundo no mundo têm. Com exceção dos japoneses, claro, porque os japoneses são meio humanos, meio origamis.

Mas sabe o que realmente me deixa possesso sobre as minhas expectativas? A falta que elas fazem. Uma vez me disseram que as expectativas eram o começo dos sonhos. Eu não entendi na hora, como nunca entendo. Meu cérebro funciona como uma repartição pública: de repente, um arquivo empoeirado é redescoberto e tudo passa a fazer sentido, com pelo menos três vias autenticadas. Precisei conversar até às 3h00 com uma estrela pra fazer uma faxina na minha cabeça e achar essa frase dentro de mim. Depois que a estrela me deixou em casa pra dormir e foi pilotanto seu Corsa prata pelo céu, coloquei tudo no lugar.

Quando sinto que estou domando minhas expectativas, meu sonhos começam a morrer, me dei conta. Fingir que não quero tanto assim acaba por deixar tudo no cinza. Acaba por fazer eu realmente não querer tanto assim. Bobo, mas tentando me proteger do ruim acabo por me proteger do bom também. Não adianta eu me esconder debaixo do escudo. Sofrer faz parte da vida, não é? Porra, nessas horas eu me dou conta de que eu tenho muito o que aprender ainda.

E eu que tava me achava maduro. Vou precisar fazer um novo concurso público de neurônios pra consertar as coisas.

Quem sou eu

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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto