domingo, 21 de fevereiro de 2010

Esboços sobre o amor e a linguagem 1

Um dia eu ouvi em algum lugar que escrever com amor é amar de um jeito estranho. Não entendi bem naquela época. Agora acho que não entendo mesmo é de jeito nenhum. Tentar falar de amor com letras impressas parecia uma incongruência para mim, isso é fato. Ou era fato. Malditos tempos verbais. Sempre achei que o amor devia ser sentido em todas as dimensões, em todos os toques e cheiros e gostos e sussurros que são possíveis provar. E a escrita é fria, eu acho.

Quando comentei sobre isso com um grande amigo, que pode ser ou não fictício, ele disse suavemente “mas que merda é essa que você está falando?”. Segue o que o camarada me explicou, da melhor maneira que minha memória consegue resgatar:

- Às vezes você fala umas coisas que me deixam triste, Doca Nii-san.

- Ué, o que tem de mais? Acho que o amor não se diz escrevendo, só isso.

- E é aí que você manda mal. Você pensou na sua forma de dizer e não na forma com que os outros entendem.

- Desenvolva, velho chato.

- Se você diz, a pessoa é obrigada a apenas escutar. Pode retrucar, mas aí já vai para o diálogo, que não é do que estamos falando aqui. Agora, se você escreve, a pessoa lê e interpreta. Ela adapta a sua visão à visão que ela tem. É obrigada a preencher as lacunas com suas próprias experiências.

- Então você quer me convencer que escrever o amor é o certo, e não falar?

- Não, Doca anta Nii-san. Estou dizendo que não existe certo ou errado. O que existem são as linguagens. Você as usa de acordo com o que quer dizer e com o que espera do seu interlocutor.

- Aaaihn. Make sense.

- Agora leve esta voad com você para casa.

- Voad?

- Voadora Dragão. Toma!

Um comentário:

Ana Paula Bessa disse...

Hehehehe. Morri de rir!

Mas eu acho que não é spo essa experiência que escrever amor proporciona. Quando você escreve para uma pessoa sobre o amor com certeza isso provoca sensações como: coração palpitando, emoção a flor da pele, olhos cheios d´água, sorriso, admiração e uma vontade enorme de abraçar. (Por isso é tão comum ver pessoas abraçando cartas :D)

Acho também que só quem recebeu uma carta de amor sabe o quanto ela te deixa feliz, e esclarece muitas coisas.

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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto