segunda-feira, 1 de março de 2010

Conselho




Ela girou os calcanhares, num bailado leve, e em menos de um segundo estava de frente pra mim.
Com uma segurança inabalável me disse:
- Sua vida é muito disso tudo porque você não sabe andar na maré.

Eu, surpreso como um petista, perguntei a pergunta mais sem propósito possível.
- Hein?

Ela, que estava firme, conseguiu ser mais.

- Você sabe, eu sei. Não preciso de mais do que esse tempo contigo pra saber que tem alguma coisa, qualquer coisa em você que está fora do lugar. Eu só não consegui deixar de te dizer.
- Bom, obrigado, eu acho - respondi, desconfiado.
- Quer um conselho?
- Manda bala.

Com o brilho de uma nova Vishnu nascendo, ela disparou:
- Para de jogar "Cara ou Coroa" com a sua vida.

E foi-se embora quando o elevador parou no térreo.
Até hoje eu me pergunto o que diabos essa desconhecida quis me dizer.

(05/10/2014) 
Hoje eu sei.



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Quem sou eu

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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto