quarta-feira, 27 de abril de 2016

Isso é sangue, não é tinta não




Passeando pelo quarto, ela disse que queria mesmo era um reembolso pelo dinheiro gasto com lâminas:

- Eu raspava as pernas todo dia esperando que você me ligasse.

Claro que não era o objetivo da Andrea arrancar uma risada dele. Mas a risada veio, com força e com coragem, porque sabia que chegava pra provocar um furacão.

- Para de rir, seu idiota! Tinha dias que eu saia do banho mais cortada que salaminho da padaria.

A gargalhada aumentou, beirando o incontrolável. Ele nem sabia direito o porquê de estar rindo. Mas o pequeno ossinho do humor em sua barriga estava se contorcendo.

- Cadê o homem que me faz ficar feliz? Ele tava aqui há pouco tempo.
- Esse homem, ele não te ama - respondeu, em meio as risadas.

E o riso então morreu. Porque graça não havia. Era desespero de um lado. E um coração partido do outro.





Quem sou eu

Minha foto
"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto