quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Outros tantos

Agora, toda vez que ele enfia a mão no bolso, só tira cinco dedos. Ser neo-pobre: já teve um pouquinho de dinheiro e agora tem que viver na pindaíba. Profetiza que nunca vai querer saber de trocados a mais.

- Ad eternum, vou continuar fudido. O pescoço não acostuma com a pena de ganso, só fica doido pra sentir o ganso passando pela goela mesmo.

Que venham outros tantos tempos de vacas magras. E na falta de ganso, hoje combinamos de roubar galinha no vizinho.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

[Info] Você é um Falta-Letra!



Nem sabia que isso existia, muito menos que eu era. Mas ele falou batendo o copo na mesa e espirrando cerveja. E ninguém desperdiça cerveja assim, sem um bom motivo.

- Seu cretino! "Vou postar uma por semana, mimimi". Esperei quase quatro meses pra poder ler tudo. Dando F5 nesse blog de merda. Você é um falta-letra! Vou chutar seu saco! Odeio você mais que Nova Schin!

Logo depois ele começou a falar mole, disse que queria passear de carrossel, que o SBT tava acabando com a infância dele com esse remake de baixa qualidade, que iria começar um negócio de importar japonês pro Brasil, que japonês é que era gente boa e por aí foi em seu papo de bêbado.

Fiquei com o "falta-letra" na cabeça. Podia dar desculpas pra ele. Dizer que sobrou e faltou amor, que sobrou e faltou trabalho, que, porra, eu tava na Jamaica e isso por si só justifica qualquer coisa, vá. Mas eu sabia que não justificava e que tinha deixado ele esperando. Deixei todo mundo que quis me ler sem letras, mesmo prometendo palavras regulares.

Decidi então ser mais comprometido com a causa. A meta do "pelo menos 1" tá sendo mantida, todo mês publico meu guéri-guéri por aqui. E em séries por vir, vou escrever tudo antes de começar a publicar pra não correr o risco de faltar.

Nunca mais serei tão rebaixado com a alcunha de falta-letra. Afinal, um homem sem letras não pode ser um homem de todo, parafraseando Flávio.




domingo, 7 de outubro de 2012

Ir embora e o vento que corta




Malas, sempre elas, mas dessa vez não eram minhas. Ela calculava o choro na medida em que colocava sapatos e coisas dentro das abas de pano e plástico. As despedidas minavam sua vontade, reproduziam seus medos, faltas, vazios, dúvidas e carências. E no fim, as malas. Elas sempre ficam lá, se esgueirando à espera do momento de carregar as coisas pela janela.

E o vento que corta, meu amor? A secura daqui? Os dias tão sem samba? Eles vão ficar pra trás, e a cidade que é tão mais em seu coração, agora é uma realidade. É... Não. Mesmo isso não consola a dor. Os pés descalços já se acostumaram com o terreno do quintal, pisar em ovos não é bem o planejado. Flutuar enquanto dorme é a solução na casa do futuro. Os planos, tantos planos.

As lágrimas de quem fica no canto da saudade, o lábio que treme na hora do beijo no rosto. Não era pra ser assim, era pra ser mais fácil, mas o “mais fácil” não tem de pote, não vem pra hoje. Enquanto toco as notas de um jazz da calma, ela vive o desapego mais profundo, o salto do ninho. Sou o observador da dança, um passarinho. E minhas asas não se comparam às dela.

A revoada está prestes a começar. Olha bem pro horizonte. Ela vai se perder em meio aos pássaros da brisa. Está prestes a começar.



Quem sou eu

Minha foto
"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto