terça-feira, 1 de novembro de 2016

Véspera




Meu Novembro não começa no mês 11. Ali por Setembro ele já está me rondando, lembrando que ele vem. Tão certo como é errado usar tênis branco nessa cidade de terras vermelhas. A véspera é longa;

Ainda te sinto. Não como uma memória, mas aqui, completa, e posso te tocar em tudo. É uma tortura pra mim que você se espalhe pelo mundo, vazando. Nenhuma memória te cabe. Uma confusão de passos ao meu redor, todos brilhando, como os tênis de luzinhas que a gente cobiçava na infância. Tênis brancos de luzinhas.

Passo pela pitangueira que ela plantou há mais de quinze anos. Já está enorme, já tem até os moleques fiéis a roubar os frutos. Agora tá em flor. Eu não lembro se ela alguma vez sentiu o perfume de uma flor de pitangueira. Essas coisas me matam. Sinto como eu precisasse saber absolutamente tudo daquela moça.

Sinto como se eu tivesse que ser o vaso que te abriga. Meu corpo, seu latifúndio. Mas transbordo, não nego, volto quando couber.



Um comentário:

AUDIANE ARRUDA disse...

Quando alguém faz o tutorial de como sentir o cheiro da saudade.

Quem sou eu

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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto