segunda-feira, 18 de julho de 2016

Unhas nos dentes




Tinha um amigo na faculdade que me disse uma vez que ele não namorava porque não queria ter que terminar. Na época soou genial. Agora acho que afirmação mais boçal é difícil de produzir.

A gente termina o tempo todo.
Do supermercado favorito ao quase-amor. Foi quase. Tão quase... Mas falhou o atendimento, deu diferença de valor no caixa e, cara, alguém roubou o meu carrinho. Quem tem co-ra-gem de roubar o carrinho dos outros?

Um sentimento que não dá pra definir direito. Uma agonia desproporcional à questão. Como quando você corta mal  a unha e percebe que tem uma pontinha áspera, agarrando. Algo que poderia ser resolvido e nunca foi. Será que poderia? Tinha saída? Ela ainda se agarra. Mas já acabou. O inexorável futuro de agora. Nas lágrimas que ficaram pela roupa, as outras que vão cair no carro. As dores que me seguem, cão sem dono. Os contornos mal cortados dela contra o sol, na fumaça do cigarro que ela só fuma quando se sente muito, muito sozinha.

Me pego pensando em quantas vezes eu senti amor. Em quantas vezes fui amado. A conta deveria fechar, mas parece que nunca irá. É triste, bem triste, perceber as pontas ásperas.



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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto