sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Película

Patrícia era nova no prédio e não estava acostumada a morar em um apartamento. Ficou preocupada com o edifício em frente ao seu, qualquer um poderia bisbilhotar sua privacidade. Nada de passear pelada pela casa, pensou. Dividiu o tormento com uma amiga, na academia do bairro, que encerrou o assunto em uma nota de serenidade:

- Fica tranquila, as janelas do seu prédio têm película.

Problema de consciência resolvido, ela pode desfrutar da liberdade do lar para dançar nua na sala, pelo tempo que quisesse.

Enquanto isso, a amiga da academia passou a ficar muito atenta durante a noite. Esqueceu de avisar à Patrícia que era moradora do tal edifício em frente.

E também esqueceu de mencionar que a película só protege a privacidade se as luzes do apartamento estiverem desligadas.

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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto