O infravermelho arde na pele, seca tudo por debaixo da pele. Apesar da mocinha perguntar, de tempos em tempos, se tá quente demais, Hermes não cansa de repetir o "está tudo bem". Nunca quis ser um velho reclamão e manteria o sorriso, ainda que isso lhe rendesse uma queimadura leve.
Gostava daquele lugar. Não era como um bospital, cheio de gente morrendo. Tava mais pro lar de pessoas que se agarravam na vida. Alguns jovens, muitos velhos como ele. Problemas nas mãos, nos joelhos, nas costas. Uma loja de dores variadas, um arsenal de luzes e pesos e choques anestésicos.
O pé dele latejava. Queria caminhar mais longe, pular mais alto. Mas a idade não era a desse tempo. Aprendeu a se contentar com as flexões do coração, ainda elástico, que desenvolvia paixões subitas por temas novos e mulheres mais aind. Aprendeu a domar o peito e, apesar das queimaduras leves ali também, sorria. O pé ficava pronto pra novas travessias.
O homem, deus grego da mensagem, um homem. Não se fazem mais Hermes. Nem Adamastores. Nem carburadores. O tempo é engraçado, feito de fores, dores, o alívio que vem de rancores, estirado, jeito com cores, hóstia sagrada nas mãos do pastores. E rimas fracas. O tempo precisa do calor de um infravermelho, pensou, olhando fundo dentro da luz escarlate.
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