Esse meu blog está autobiográfico demais.
Certo, então tem o Juca. O Juca é um camarada que não sabe viver além do jogo de dados. É estranho ao primeiro olhar, mas você acaba se acostumando. Tem um ar de cafetão ao redor dele, apesar da camisa xadrez e ausência de prostituas nas cercanias do seu trabalho. O constante chacoalhar dos cubos dentro do bolso, o movimento das pedrinhas marcadas pulando. Para cada escolha que ele faz, os dados são lançados. Plic, plic, plac. Os números aparecem, o rapaz soma tudo e decide. Se der número par, ele segue em frente. Ímpar, tem zica.
Complicado, diz você. Eu acho simples de doer. O Juca pelo menos sabe onde é que isso vai parar. A maioria, amigão, não faz a menor ideia.
Quantas vezes você foi pedir salada e, de repente, seus lábios disseram a garçonete “Bisteca! Eu mesmo mato o bicho se precisar. E pode caprichar no molho, ou eu te pego lá fora, vadia”? Ou viu um pai dar bronca no filho já pensando no carro de controle remoto pra curar a pirraça? A gente pensa que vai terminar o namoro e fala pra ela que quer pegar os convites do casamento na gráfica, jovem. Não canso de comprar doce e lembrar só que não posso comer.
Existe um mundo de mal-entendidos, decisões capengas ao redor do Juca. Por isso ele não aceita desaforo sobre seu jeito de tocar a banda. Ele viu que a gente só se engana confiando no cérebro (ou em qualquer outro orgão) pra decidir as coisas. Ontem ele me falou durante o jantar:
- Meu parceiro, nunca me arrependi do que os dados me mandaram fazer. Confio neles. Você pode dizer o mesmo de todas as suas escolhas balanceadas em bom-senso e o caralho todo?
Fiquei quieto. E roubei um dos dados do meu Banco Imobiliário, por precaução.
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