domingo, 21 de dezembro de 2014

Recado




Quando acabou, e de repente acabou, o que talvez já estivesse acabado, coloquei, ainda que sem propósito, mais vírgulas, pra adiar o inevitável. Eu não sei chorar tão fácil. Mas a dor que dói é curta, serena, perene. As minhas dores, as minhas mães, as paixões das quais eu sou.

Queria que ela ouvisse meu coração batendo, por inteiro os sons que ele emite. Porque ele resolve qualquer problema, cada equação que a gente não conseguiu solucionar. E eu posso ouvir o seu. O dela. De noite eu deito sobre eles, todos os corações que já tive ou vou ter, sincronizados, se escondem no meu travesseiro. E todas as dores, mães, paixões.

Serei um homem de alertas. Deixando pelas paredes recados pra quem passar. Falando que a gente encontra e perde, parede e se encanta. Lembrando que tudo o que sangra estanca, coração. Deixa escorrer. Te deixo este aviso, comovido, com o coração na mão.



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Quem sou eu

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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto