sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Barulho




Eram 7h32 quando o barulho começou. A princípio, eu não me mexi da cama. Cedo demais. O sol, pra mim, só nasce lá pras 9h40 e tudo o mais antes disso é madrugada.

E o barulho continuava. Tá que sacode a janela. Não consegui definir o que acontecia. Eu ainda estava muito idiota de sono pra raciocinar. Só fiquei a escutar o tal do barulho e pensando comigo "que troço amaldiçoado é esse que não para nunca?!". Barulho sincopado. Parecia qualquer coisa como uma obra, mas em obra tem pausa. Obra tem um barulho mais violento. O barulho parecia uma praga do inferno. Obra é o próprio inferno. E o tal do barulho não parava.

Rolei pro outro lado da cama, agarrei o travesseiro e passei o dito por cima da cabeça. Não adiantou nada. O barulho parecia estar dentro de mim, quicando em pedaços. Ô tec-ploc do capeta, quem foi o Exú que te mandou!?

Tateei o criado-mudo a procura dos óculos. Esbarrei no abajur, que caiu no chão fazendo um barulho maior que o barulho que tava me aborrecendo. Achei celular, relógio, livro e finalmente os óculos. Droga, ainda peguei pela lente.

Coloquei nos olhos e firmei a vista. Vinha da janela, o zumbido mancumunado com o Cão. Menos que caminhar, cambaleei ou quase rastejei até lá. Abri a cortina devagar, pra não arder a vista. E lá estava.

Chuva. Ué, chuva?! É. Num é que era? Chuva. Chuva tem barulho bom. Hum.
Deitei na cama e voltei a dormir imediatamente. Feliz da vida. Adoro dormir com barulho de chuva.



Um comentário:

Ana Paula Bessa disse...

Melhor que dormir com chuva é acordar com ela e perceber que ainda tem mais não-sei-quantas-horas para dormir com chuva até acordar para trabalhar.

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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto