sexta-feira, 10 de junho de 2011

vontade de:

Eu tenho vontade de compar um galo e batizá-lo de Horácio. Cansei do meu despertador.

Eu tenho vontade de beber o vinho do padre pra ver se é porreta ou não.

Eu tenho vontade de bater na bunda de quase toda mulher que eu conheço, confesso. Isso não é desrespeito, pelo amor de Deus. Respeito o pandeiro alheio, pode confiar. Mas acho engraçado por natureza a ideia de um tapa na bunda. Como até agora não fui preso, você sabe que eu seguro essa vontade.

Eu tenho vontade de acender vela pra poder apagar com o dedo.

Eu tenho vontade de ir enrolado na coberta pra qualquer lugar em que eu precise ir pela manhã.

Eu tenho vontade de construir um toboágua que me leve do trabalho pra casa.

Eu tenho vontade de ter o par de pernas dela subindo pelas minhas toda manhã. E sei que você tem vontade de saber quais pernas são, mas não tenho nenhuma vontade de contar.

Eu tenho vontade de construir um túnel de fuga.

Eu tenho vontade de roubar o papagaio gigante da Petrobrás em algum posto de gasolina.

Eu tenho vontade de sentar no Dom Francisco, olhar no olho do garçom, pigarrear e dizer com um sotaque cearense "me veja aí um BigMac que hoje eu tô pra matar um jagunço de fome!".

Eu tenho vontade de deixar o meu cabelo crescer, mesmo sabendo que, a cada dia, eu teria vontade cortar tudo porque cabelo grande me dá agonia e não tem nada a ver comigo.

Eu tenho vontade de comprar uma impressora que funcione só pra imprimir meus textos e depois queimá-los com conhaque e ao som de Maria Betânia. Daria um tom mais dramático à minha literatura de boteco.

Eu tenho vontade de parar de ser sem-noção, porque isso deixa muita genta puta comigo. Com razão. Mas daí eu seria uma pessoa mais triste, já que ser sem-noção é a minha principal fonte de alegrias e histórias.

Eu tenho vontade de ter um galo chamado Horácio. Já falei dele?

Eu tenho vontade de melhorar o HD do meu cérebro porque esqueço completamente de coisas da minha vida, coisas que fiz, coisas que falei. Isso sem nunca ter usado nada além de altas doses de jujuba.

Eu tenho vontade de apertar bebês e abraçar velhinhos.

Eu tenho vontade de Nicole, sentada ao meu lado no alto da Cidadela em Budapeste, falando sobre as coisas simples e adoráveis, rindo de mim, explicando suas teorias a respeito de musicais e cinema. Me fazendo sentir uma saudade esmagadora de tudo o que ainda não aconteceu comigo. Me fazendo saber que sentiria saudade daquele momento pra sempre.

Eu tenho vontade de não me sentir como um balão de festa furado quando me decepcionam.

Eu tenho vontade de ser organizado. Não aguento mais escrever na mão pra lembrar das coisas.

Eu tenho uma vontade irracional de contar piadas muito ruins mesmo sabendo que são ruins. Mas essa vontade não conta porque isso eu faço todo dia.

Um comentário:

Eu? disse...

e eu tenho vontade de te ver fazer a piada do "eu tenho um sonho" todo dia... =)

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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto