quinta-feira, 19 de maio de 2011

Edital de Expectativas

Eu odeio as minhas expectativas. Com muita força. Sempre que elas brotam, começo a ficar nervoso e com medo. Aquele medo do "e se não der certo? vale chorar?" que nasce perto do umbigo da gente. Ou perto do meu, pelo menos. Minha ansiedade é toda feita de barriga. Acabei dando um jeito de vencê-la longo do tempo. A ansiedade, não a barriga. Foi um trabalho longo e cansativo, aos poucos o meu auto-controle acabou suprimindo esse pedaço da vida que eu, você e todo mundo no mundo têm. Com exceção dos japoneses, claro, porque os japoneses são meio humanos, meio origamis.

Mas sabe o que realmente me deixa possesso sobre as minhas expectativas? A falta que elas fazem. Uma vez me disseram que as expectativas eram o começo dos sonhos. Eu não entendi na hora, como nunca entendo. Meu cérebro funciona como uma repartição pública: de repente, um arquivo empoeirado é redescoberto e tudo passa a fazer sentido, com pelo menos três vias autenticadas. Precisei conversar até às 3h00 com uma estrela pra fazer uma faxina na minha cabeça e achar essa frase dentro de mim. Depois que a estrela me deixou em casa pra dormir e foi pilotanto seu Corsa prata pelo céu, coloquei tudo no lugar.

Quando sinto que estou domando minhas expectativas, meu sonhos começam a morrer, me dei conta. Fingir que não quero tanto assim acaba por deixar tudo no cinza. Acaba por fazer eu realmente não querer tanto assim. Bobo, mas tentando me proteger do ruim acabo por me proteger do bom também. Não adianta eu me esconder debaixo do escudo. Sofrer faz parte da vida, não é? Porra, nessas horas eu me dou conta de que eu tenho muito o que aprender ainda.

E eu que tava me achava maduro. Vou precisar fazer um novo concurso público de neurônios pra consertar as coisas.

Um comentário:

Unknown disse...

A definição de repartição pública é minha. Creative Commons, ok?

Que bom que você finalmente chegou a essas conclusões. Fico feliz, de coração.

Beijo!

Quem sou eu

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"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato/ O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço/ O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome/ O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas/ O amor comeu metros e metros de gravatas/ O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus? O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos/ O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte" - Dos Três Mal-amados, Palavras de Joaquim - João Cabral de Melo Neto